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Brasil fica para trás em inovação

25 de março de 2013

Os países emergentes reduziram consideravelmente a distância que os separa das potências no que diz respeito à pesquisa e à inovação, áreas fundamentais para dar sustentação ao razoável desempenho econômico que essas nações tiveram nos últimos anos. O Brasil apresentou alguns avanços, como mostra um levantamento da empresa de informação Thomson Reuters, mas o perfil do País indica atraso em áreas essenciais, como engenharia, química e física. Para os autores da pesquisa, essa deficiência pode significar uma limitação importante para o desenvolvimento econômico no futuro. O problema é o de sempre: o investimento em inovação, tanto público quanto privado, é baixo e direcionado apenas para certas áreas do conhecimento, normalmente ligadas à natureza, negligenciando setores que possibilitariam um salto estrutural importante, como tecnologia e ciências físicas.

O levantamento da Thomson Reuters mostra que, há 40 anos, dois terços das pesquisas publicadas se originavam de países do G-7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo. Hoje, o G-7 responde por menos da metade. O quadro mudou graças ao crescimento acelerado das pesquisas em cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e Coreia do Sul.

Para os padrões europeus e da OCDE, o investimento em pesquisas, num país desenvolvido, deve ser de algo em torno de 2% do PIB. Com exceção da Coreia do Sul, que investe mais até do que a Alemanha, os países emergentes citados no estudo ainda não estão nesse patamar, mas seus autores salientam que não é apenas uma questão de dinheiro – isto é, não basta construir laboratórios ou pagar bons salários aos pesquisadores. O importante é que o sistema educacional desses países seja transformado para criar uma geração intelectualmente preparada para esse desafio, e isso leva tempo e requer políticas de Estado firmes e contínuas. Alguns emergentes já tomaram essa providência há algum tempo, e o caso sul-coreano é o mais notável, enquanto outros patinam, como o Brasil, a Índia e a Rússia.

A dependência de investimento público para a inovação também é uma importante diferença entre Brasil e Coreia do Sul. Enquanto a indústria brasileira banca menos da metade dos recursos destinados à pesquisa, o setor privado sul-coreano responde por quase 75%. O estudo considera “anormalmente baixo” o aporte privado para a inovação no Brasil e atribui esse fenômeno à oferta oficial de incentivos fiscais para a indústria. Ou seja, o setor privado fica à espera de que o investimento seja feito pelo governo.

Além disso, a julgar pela produção científica registrada em revistas especializadas, o Brasil concentra suas pesquisas na área de ciências biológicas – ou, para usar um termo cunhado pelo estudo, “economia do conhecimento da natureza”. Os demais emergentes também vão bem em biologia e em bioquímica, mas apresentam um cardápio bem mais variado de interesses e um pesado investimento em ciências físicas, voltadas para o desenvolvimento tecnológico, que o Brasil não prioriza. Em seus planejamentos quinquenais, a China já deixou claro que pretende passar de manufatureira a geradora de conhecimento – em 2010, 84% das patentes requeridas entre os emergentes eram chinesas e sul-coreanas. Desse modo, o futuro próximo indica um ambiente muito mais competitivo do que o atual.

No Brasil, contudo, observa-se uma errática política de incentivo à inovação em tecnologia, limitando-se a programas estatais – no último deles, o governo anunciou R$ 32,9 bilhões, até 2014, para financiar projetos. O estudo divulgado agora comprova que, entre os emergentes, há aqueles que investem de modo sistemático e permanente para mudar seu status global, tentando ombrear com as grandes potências em inovação, e há os que se querem “desenvolvidos” apenas pela força de belas palavras. Já passou da hora de decidir se o Brasil quer continuar a ser um mero emergente, escorando-se em assistencialismo voluntarista e no paternalismo estatal, ou se vai investir para ser uma verdadeira potência.

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